HOFWEGEN, June

"Eis que surge uma nova heroína, aquela que se quer temeu enfrentar desafio de navegar pela caminho ao qual lhe trouxe à nós. Devo então, questionar-lhe o maior mistério: quem és o ser divino frente a mim?", ouço o homem dizer.

"Maravilhoso!" 

Sua animação era um tanto quanto irritante mediante ao que havia respondido. "Peço tão somente que aguarde enquanto faço as minhas anotações. Novamente...", ele veio a continuar, retornando com uma pausa enquanto parecia relembrar tudo aquilo que eu havia dito.

"June Hofwegen, nascida em oito de novembro, tendo dezenove anos, uma filha de Hécate, especificamente, uma pirata, certo?", ele questionou. Havia repetido todas as informações dadas por mim. Aquilo era sério? Pude tão somente assentir, remetendo aos poucos fatos que me eram importantes no passado, fatos que remetiam a minha história, a quem eu realmente era.

A paixão de Johannes pelo mar só não era maior do que seu gosto pela liberdade. Apreciava as possibilidades que a navegação lhe dava e acostumou-se a viver sem rumo e sem amarras, desbravando novas terras e todas as possibilidades que as rotas indicavam. E foi seu espírito aventureiro que o levou além das ondas conhecidas, aportando em meio aos encantos e sussurros de Hécate em uma ilha distante. Apaixonado, Johannes não teve nenhuma chance diante das artimanhas da deusa e, por exatamente 300 noites, aninhou-se em seus braços e teceu esperanças de viver ao lado dela por toda a eternidade. Os atos amorosos geraram frutos e, ao final da estação das folhas secas, Hécate entregou a Johannes seu maior presente: June, a filha dos dois, que trouxe consigo também os últimos suspiros daquela história.

Assim como seu pai, a menina acostumou-se a viver entre os portos de Sophrosyne. Porém, ao contrário dele, os caminhos de June enveredaram-se para as águas mais sombrias daquela sociedade e, aos dezesseis anos, fez seu juramento como marujo de um dos navios pirata mais promissores da região – o Ceifador dos Mares. Viver entre criaturas detestáveis e moralmente dúbias transformou June em uma jovem mulher muito desconfiada, de sorriso difícil e segundas, terceiras e quartas intenções. Em suas aventuras, apaixonou-se pelo brilho dos dracmas e, em consequência, ganhou algumas cicatrizes espalhadas pelo corpo e muitas histórias para tirar vantagem nos portos. Aqueles que a confundiam com uma meretriz conheciam de perto a fama traiçoeira de sua adaga púrpura, temida principalmente pelos marujos recém-chegados ao Ceifador dos Mares. Em terra, fazia questão de manter um sorriso cuidadosamente criado para situações especiais, aproveitando que sua aparência feminina não tinha sido completamente desgastada pelos mares.

Apesar de  viver dias gloriosos como uma navegadora, June tinha pleno conhecimento de que o destino chamaria por seu nome mais cedo ou mais tarde. Poucos dias depois de completar dezenove anos, era chegada a hora de assumi-lo como a criatura que era. Sem navios, sem novos portos, sem a necessidade de assegurar sua sobrevivência segundo a segundo. Será?

Abrace-nos pequena, a cidadela ainda a guiará. Antes, no entanto, precisa descobrir quem realmente é.

Minha cara, sentimos muitíssimo, mas sua ficha fora negada. Basicamente, se deseja ter consigo algum parente divino atualmente indisponível, será necessária a sua requisição em meio ao tópico de pedidos, devendo informar o deus e a causa.

Adianto-lhe que Circe se quer jamais fora uma deusa ou mesmo uma deidade, sendo tão somente uma feiticeira, o que lhe impediria de ser uma semideusa ou mesmo um legado, visto a exclusão desta de nossa trama.

Qualquer dúvida estaremos disponíveis.